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A HISTÓRIA DO UNIVERSO (ParteII)





O tão acalentado sonho do Criador se concretizara. Agora,
como Pai carinhoso, conduzia as criaturas através de uma
eternidade de harmonia e paz. Em virtude do cumprimento
das leis divinas, o Universo expandia-se em felicidade e
glória. Havia um forte elo de amor, que a todos unia
fortemente. Os seres racionais, dotados da capacidade de um
desenvolvimento infinito, encontravam indizível prazer em
aprender os inesgotáveis tesouros da Sabedoria divina,

transmitindo-os aos semelhantes. Eram como canais por
meio dos quais a Fonte da Eterna Vida nutria a todos de amor
e luz. Em Jerusalém, os ministros do reino reuniam-se ante o
soberano Rei, sempre prontos a cumprir os Seus propósitos.
Era através de Lúcifer que o Eterno tornava manifesto os
Seus desígnios. Depois de receber uma nova revelação, ele
prontamente a transmitia às hostes angelicais. Estas, por sua
vez, a compartilhavam com a criação. Em célere vôo os anjos
rumavam para os planetas capitais, onde, em grandes
assembléias, reuniam-se os representantes dos demais
mundos. Em muitas dessas assembléias, Lúcifer fazia-se
presente, enchendo os participantes de alegria e admiração.
Perfeito em todas as virtudes, ele os cativava com sua
simpatia. Nenhum outro anjo conseguia revelar como ele os
mistérios do amor do Eterno. O Universo, alimentando-se da
Fonte da Vida, expandia-se numa eternidade de perfeita paz.

A obediência às leis divinas era o fundamento de todo
progresso e felicidade. Ainda que conscientes do livre-arbítrio,
jamais subira ao coração de qualquer criatura o
desejo de se afastar do Criador. Assim foi por muito tempo,
até que tal problema irrompeu na vida daquele que era o mais
íntimo do Eterno. Lúcifer, que dedicara sua vida ao
conhecimento dos mistérios da luz, sentiu-se aos poucos
atraído pelas trevas. O Rei do Universo, aos olhos de quem
nada pode ser encoberto, acompanhou com tristeza os seus
passos no caminho descendente que leva à morte. A
princípio, uma pequena curiosidade levou Lúcifer a se
aproximar daquele abismo profundo. Contemplando-o, ele
começou a indagar o porquê de não poder compreender o
seu enigma. Retornando a seu lugar de honra, junto ao trono,
prostrou-se ante o divino Rei, suplicando-Lhe: - Pai, dá-me a
conhecer os segredos das trevas, assim como me revelas a
luz. Ante o pedido do formoso anjo, o Eterno, com voz
expressiva de tristeza, disse-lhe: - Meu filho, você foi criado
para a luz, que é vida. Convencendo-se de que o Criador não
lhe revelaria os tesouros das trevas, Lúcifer decidiu
compreender por si mesmo o enigma. Julgava-se capacitado
para tanto. Com esta triste decisão, o príncipe dos anjos
permitiu que surgisse em seu coração uma mancha de
pecado que poderia trazer uma catástrofe para o Universo.

Só Deus sabia o que se passava no coração de Lúcifer. O
anjo, que fora criado para ser o portador da luz, estava
divorciando-se em pensamentos do bondoso Criador que,
num esforço de impedir o desastre, rogava-lhe permanecer a
Seu lado. Uma tremenda luta passou a travar-se em seu
íntimo. O desejo de conhecer o sentido das trevas era
imenso, contudo, os rogos daquele amoroso Pai, a quem não
queria também perder, o torturavam. Vendo o sofrimento que
sua atitude causava ao Criador, às vezes demonstrava
arrependimento, mas voltava a cair. Antes de criar o
Universo, Deus já previra a possibilidade de uma rebelião. O
risco de conceder liberdade às criaturas era imenso, mas,
sem este dom, a vida não teria sentido. O Eterno não queria
reinar sobre robôs, programados para fazerem somente a
Sua vontade. Ele queria que a obediência fosse fruto de
reconhecimento e amor, por isso decidiu correr o grande
risco. Ainda que prosseguisse na busca do sentido das
trevas, Lúcifer não pretendia abandonar a luz. Esforçava-se
para chegar a uma combinação entre essas partes que, no
reino do Eterno, coexistiam separadas. Finalmente, com um
sentimento de exaltação, concebeu uma teoria enganosa,
que pretendia apresentar ao Universo como um novo sistema
de governo, superior ao governar do Eterno. Denominou sua
teoria de "a ciência do bem e do mal". Estruturada na lógica,
a ciência do bem e do mal se revelou atraente aos olhos de
Lúcifer, parecendo descerrar um sentido de vida superior
àquele oferecido pelo Criador, cujo reino possibilitava
unicamente o conhecimento experimental do bem. No novo
sistema, haveria equilíbrio entre o bem e o mal, entre o amor
e o egoísmo, entre a luz e as trevas. Ao longo do tempo em
que amadurecera em sua mente a ciência do bem e do mal,
Lúcifer soube guardar segredo diante do Universo.

Continuava em seu posto de honra, cumprindo a função de
Portador da Luz. Contudo, por mais que procurasse fingir,
seu semblante já não revelava alegria em servir ao Eterno. O
divino Rei, que sofria em silêncio, procurava, por meio de
Suas revelações de amor, preparar as criaturas racionais
para a grande prova que se aproximava. Sabia que muitos
dariam ouvido à tentação, voltando-Lhe as costas. À noite da
provação faria sobressair, contudo, os verdadeiros fiéis -
aqueles que serviam ao Criador não por interesse, mas por
amor. Ao ver que a hora da prova chegara, e que Lúcifer
estava pronto para traí-Lo diante do Universo, o Eterno, que
jamais cessara de revelar os tesouros de Sua sabedoria,
tornou-se silencioso e contemplativo. O silêncio fez reviver no
coração das hostes a lembrança daquela primeira excursão
sideral, quando, depois de lhes mostrar as riquezas do reino
da luz, Deus tornou-se silencioso ante aquele abismo.
Lembram-se de Suas palavras: "Todos os tesouros da luz
estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos
ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não.
Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida". Lúcifer, que
passara a cobiçar o trono de Deus, indagou-Lhe o motivo de
Seu silêncio. O Criador, contemplando-o com infinita tristeza,
disse-lhe: "É chegada à hora das trevas. Você é livre para
realizar seus propósitos". Vendo que o momento propício
para a propagação de sua teoria havia chegado, Lúcifer
convocou os anjos para uma reunião especial. As hostes,
desejosas de conhecer o significado do silêncio do Pai,
tomaram seus lugares junto ao magnífico anjo, que sempre
lhes revelara os tesouros do reino da luz. Lúcifer começou
seu discurso exaltando, como de costume, o governo do
Eterno. Num amplo retrospecto, lembrou-lhes as grandiosas
revelações que os enriquecera em toda aquela eternidade. O
silêncio divino, apresentou-o como sendo a indicação de que
o Universo alcançara a plenitude do conhecimento oriundo da
luz. Silenciando, o Eterno abria-lhes caminho para o
entendimento de mistérios ainda não sondados, mantidos até
então além dos limites de Seu governo. Surpresas, as hostes
tomaram conhecimento da experiência de Lúcifer sobre as
trevas. Com eloqüência, ele falou-lhes da ciência do bem e
do mal, indicando-a como o caminho das maiores
realizações. O efeito de suas palavras logo se fez sentir em
todo o Universo. A questão era decisiva e explosiva, gerando
pela primeira vez discórdia. Os seres racionais, em sua
prova, tinham de optar por permanecer somente com o
conhecimento da luz, o qual Lúcifer afirmava haver chegado
ao seu limite, ou se aventurar no conhecimento da ciência do
bem e do mal. No começo, os anjos debateram-se diante da
questão, sendo logo depois todo o Universo posto à prova.

Dir-se-ia que a ciência do bem e do mal haveria de
arrebanhar a maior parte das criaturas, mas, aos poucos,
muitos que a princípio se empolgaram com a teoria,
despertaram para a ilusão da mesma, reafirmando sua
fidelidade ao reino da luz. Ao fim desse conflito, que se
arrastou por longo tempo, revelou-se um terço das estrelas
do céu ao lado de Lúcifer, e as restantes, ainda que abaladas
pela prova ao lado do Eterno. A ciência do bem e do mal fora
apregoada por Lúcifer como um novo sistema de governo.
Mas como exercê-lo, se o Eterno continuava reinando em
Sião? Precisavam encontrar um meio de afastá-Lo dali. O
conselho, formado pelos anjos rebeldes, passou a tratar
disso. Decidiram, finalmente, solicitar-Lhe o trono por um
tempo determinado, no qual poderiam demonstrar a
excelência do novo sistema de governo. Caso fosse aprovado
pelo Universo, o novo sistema se estabeleceria para sempre;
caso contrário, o domínio retornaria ao Criador. Foi assim que
Lúcifer, acompanhado por suas hostes, aproximou-se
arrogante d'Aquele Pai sofredor, fazendo-Lhe tal pedido. O
Eterno não era ambicioso, apenas queria bem às Suas
criaturas. Se a ciência do bem e do mal consistisse realmente
num bem maior, não Se oporia à sua implantação, cedendo o
trono a seus defensores. Mas Ele sabia que aquele caminho
conduziria à infelicidade e à morte. Movido por Seu amor
protetor, o Criador desatendeu o pedido das hostes rebeldes,
que se afastaram enfurecidas. A lhes ser negado o trono,
Lúcifer e suas hostes passaram a acusar o divino Rei,
proclamando ser o seu governo de tirania. Afirmavam ser sua
permanência no trono a mais patente demonstração de Sua
arbitrariedade. Não lhes concedera liberdade de escolha? For
que neutralizá-la agora, impedindo-os de pôr em prática um
sistema de governo superior? As acusações das hostes
rebeldes repercutiram por todo o Universo, fazendo parecer
que o governo do Eterno era injusto. Isto trouxe profunda
angústia àqueles que permaneciam fiéis ao reino da luz. Não
sabendo como refutar tais acusações, essas criaturas,
emudecidas pela dor moral, ansiavam pelo momento em que
novas revelações procedentes do Criador pudessem aclara-lhes
os mistérios desse grande conflito. As acusações e
blasfêmias das hostes rebeldes alcançavam o ponto
culminante quando o Eterno, num gesto surpreendente,
ergueu-se de Seu trono, como que pronto a deixá-lo.

Os infiéis, na expectativa de uma conquista, aquietaram-se,
enquanto um sentimento de temor penetrava no coração dos
súditos da luz. Entregaria Ele o domínio de toda a criação,
para livrar-Se das vis acusações? De acordo com a lógica a
partir da qual Lúcifer fundamentava seus ensinamentos, não
restava alternativa ao Criador. Nesta tremenda expectativa, o
Universo acompanhava os passos de Deus. Num gesto de
humildade, o Criador despojou-Se de Sua coroa e de Seu
manto real, depondo-os sobre o alvo trono. Em Seu
semblante não havia expressão de ressentimento ou ira, mas
de infinito amor e tristeza. Com solenidade, o Eterno
proclamou que o momento decisivo chegara, quando cada
criatura deveria selar sua decisão ao lado da luz ou das
trevas. Numa ampla revelação, alertou para as
conseqüências de um rompimento com a Fonte da Vida. Com
olhar de ternura o Criador contemplou seus filhos. Era um
olhar de humildade, que cheio de amor, suplicava para que
permanecessem ao Seu lado. Incontáveis criaturas,
emocionadas, corresponderam ao Seu olhar de bondade,
enquanto uma multidão se manteve cabisbaixa. Lúcifer e
seus seguidores estavam conscientes da seriedade daquele
momento. Ainda era possível voltar atrás em seus planos,
entregando-se arrependidos ao divino Pai que sempre os
amara. Enquanto cabisbaixos consideravam sobre a decisão
final, Lúcifer e seus adeptos ouviam o cântico daqueles que,
em reconhecimento e gratidão, colocavam-se ao lado do
Eterno. A última luta travava-se no coração dos infiéis que,
estremecidos, chegaram a pensar em recuar. Finalmente, a
lembrança do recente gesto divino, despojando-Se da coroa,
deu-lhes a certeza de que o governo lhes seria entregue.

Vendo que o Trono permanecia vazio, Lúcifer e suas hostes,
dominados pela cobiça, romperam definitivamente com o
Criador Ao ver um terço dos súditos transpor as divisas da
eterna separação, Deus deixou extravasar a dor angustiante
que por tanto tempo martirizava Seu coração, curvando-Se
em inconsolável pranto. Contemplando Seus filhos rebeldes,
ergueu a voz numa lamentação dolorosa: "Meus filhos, meus
filhos! Já não posso chamá-los assim! Queria tanto tê-los nos
braços meus! Lembro-Me quando os formei com carinho!
Vocês surgiram felizes e perfeitos, em acordes de esperança
em eterna harmonia! Vivi para vocês, cobrindo-os de glória e
poder! Vocês foram a minha alegria! Por que seus corações
mudaram tanto? O que mais poderia eu ter feito para fazê-los
permanecer comigo? Hoje minh'alma sangra em dor pela
separação eterna! Como olharei para os lugares vazios onde
tantas vezes rejubilantes ergueram as vozes em hosanas
festivas, sem me vir à mente um misto da felicidade e dor?!
Saudade infinita já invade o meu ser, e sei que será eterna!
Hoje o meu coração rompeu e quebrou-se; as cicatrizes
carregarei para sempre! Depois de proclamar em pranto tão
dolorosa lamentação, o Eterno, dirigindo-Se a Lúcifer, o
causador de todo o mal, disse: "Você recebeu um nome de
honra ao ser criado. Agora não mais o chamarão Lúcifer, mas
Satã, o inimigo do Criador e de Suas leis." Depois de
lamentar a perdição das hostes rebeldes, o Eterno, em lentos
passos, ausentou-se do jardim do Éden, lugar do trono
Universal.. Onde seria agora a Sua morada? As hostes fiéis
acompanharam reverentes os Seus misteriosos passos de
abandono, que pareciam descerrar um futuro difícil, de
sofrimentos e humilhações. Ocupariam os rebeldes o divino
trono, profanando-o como domínio do pecado? Esta
indagação torturava o coração dos súditos do Eterno.

Deixando Sua amada Cidade, o Senhor da luz conduziu-Se,
em meio às glórias do Universo, em direção do abismo
imenso, a respeito do qual silenciara até então. Ali deteve-Se
mais uma vez, emudecido, enquanto parecia ler nas trevas
um futuro de grandes lutas. Ante o sofrimento do Eterno,
expresso na tristeza de Seu semblante, os fiéis puderam
finalmente compreender o significado daquele misterioso
abismo: consistia numa representação simbólica do reino da
rebeldia. Na face entristecida de Deus manifestou-se, por fim,
um brilho que aos fiéis animou. Erguendo os poderosos
braços ante as trevas, ordenou em alta voz: "Haja luz."
Imediatamente, a luz de Sua presença inundou o profundo
abismo e, triunfando sobre as trevas, revelou um mundo
inacabado, coberto por cristalinas águas. Com esse gesto,
iniciava o Eterno uma grande batalha pela reivindicação de
Seu governo de luz; batalha do amor contra o egoísmo; da
justiça contra a injustiça; da humildade contra o orgulho; da
liberdade contra a escravidão; da vida contra a morte. Batalha
que, sem trégua, se estenderia até que, no alvorecer
almejado, pudesse o divino Rei retornar vitorioso ao santo
monte Sião, onde, entronizado em meio aos louvores dos
remidos, reinaria para sempre em perfeita paz. As trevas, em
sua fuga, apontavam para o aniquilamento final da rebeldia.
As águas abundantes que cobriam aquele mundo, até então
oculto, simbolizavam a vida eterna que para os fiéis seria
conquistada pelo amor que tudo sacrifica. O mundo revelado
era a Terra. Visitada pelas trevas e pela luz, ela seria o palco
da grande luta. Rejubilavam-se os fiéis ante o triunfo da luz
naquele primeiro dia, quando as trevas em sua fúria rolaram
sobre o planeta, sucumbindo-o em densa escuridão. A luz,
que parecia vencida, renasceu vitoriosa num lindo alvorecer.
Ao raiar a luz do segundo dia, o Eterno ordenou: "Haja uma
expansão no meio das águas, e haja separação entre água e
águas." Imediatamente, o calor de Sua luz fez com que
imensa quantidade de vapor se elevasse das águas,
envolvendo o planeta num manto de transparência anil.
Surgiu assim a atmosfera, com sua mistura perfeita de gases
que seriam essenciais à vida que em breve coroaria o
planeta. O Criador, contemplando a expansão, denominou-a
"céus". A atmosfera, que cheia de brilho envolvia a Terra,
sombreou-se ao sobrevir o crepúsculo de um outro
entardecer.

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