Pesquisar este blog

A HISTÓRIA DO UNIVERSO (Parte III)



Ao serem vencidas as trevas no terceiro dia, o Criador
prosseguiu Sua obra, fazendo surgir os imensos continentes
que ainda estavam sob a superfície das águas. Com as mãos
erguidas ordenou: "Ajuntem-se às águas debaixo dos céus
num lugar e apareça a porção seca." Em pronta obediência,
as cristalinas águas cederam sua posição superior à porção
seca que se ergueu, sobrepondo-se a elas. Nas regiões
baixas da Terra, as águas continuariam refletindo o brilho
celeste, sendo um refrigério para as criaturas sedentas.

Nesse gesto de humildade, as águas prefiguravam o Criador,
que na grande luta desceria ao mais profundo abismo para
fazer renascer nas almas sedentas a vida eterna.
Contemplando a face daquele novo mundo, o Eterno
denominou a parte seca "terra", e ao ajuntamento das águas
chamou "mares". Com Sua poderosa voz prosseguiu,
ordenando: "Produza a terra erva verde, erva que dê
semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie,
cuja semente esteja nela sobre a terra." Em obediência ao
mando divino, a superfície sólida do planeta revestiu-se de
toda sorte de vegetação: lindos prados a florir, campos
verdejantes entrecortados por rios cristalinos, florestas sem
fim onde árvores frondosas deixavam pender frutos
saborosos de infindáveis espécies. A Terra era como uma
tela onde o Criador, pelo poder de Sua palavra, coloria
quadros de beleza sem par. Enquanto com admiração as
hostes contemplavam as belezas daquela criação,
surpreenderam-se ao reconhecer sobre o novo planeta o
jardim do Éden, lugar do trono divino. O Eterno, pelo poder de
Sua palavra, o havia transferido para o seio daquele mundo
especial, onde em justiça seria confirmado o governo do
Universo. Naquele dia primaveril, a brisa acariciou
mansamente as verdes florestas e os prados em flor,
inundando a atmosfera com suave aroma e frescor.
Contemplando Sua obra, o Criador com felicidade exclamou:
"Eis que tudo é muito bom." Exuberante, o planeta cumpriu
mais um dia em sua harmoniosa rotação. As hostes fiéis
agora podiam compreender melhor a importância da luz
divinal. Sua ausência havia ofuscado, naquela noite, as
belezas de Sião. Nesse novo dia, o Criador expressaria o Seu
grande poder, dando à Terra luminares que a encheriam de
luz e calor. Esses luminares permaneceriam para sempre
como símbolos da presença espiritual do Eterno, que é a
fonte de toda a luz. Contemplando o espaço escuro e vazio
que se estendia ao redor da Terra, com potente voz ordenou:
"Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação
entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para tempos
determinados, para dias e anos. E sejam para luminares na
expansão dos céus para alumiarem a Terra." Imediatamente,
o espaço tornou-se radiante pelo brilho do sol e pelo reflexo
de planetas e satélites. Ante esta demonstração de poder, as
hostes fiéis curvaram-se em reverente adoração.

No quarto dia, o Eterno criou os mundos de nosso sistema solar não
para serem habitados como a Terra, mas para o equilíbrio do
sistema. Encheriam também o céu de fulgor, abrandando as
trevas das noites terrenas. Volvendo os olhos para a Terra,
as hostes alegraram-se por vê-la radiante em cores. Bem
próximo dela podia-se ver a Lua que, com seu reflexo
prateado, afugentaria as profundas sombras noturnas.
Envolvidos por esse cenário encantador, os filhos da luz,
rejubilantes, saudaram o alvorecer do quinto dia, que seria de
muitas surpresas. O Eterno tornaria a Terra festiva pela
presença de infindáveis espécies de animais irracionais que
habitariam toda a superfície do planeta. Essa criação teria
continuidade no sexto dia. Erguendo as poderosas mãos, o
Criador, olhando primeiramente para as cristalinas águas,
ordenou: "Produzam as águas abundantemente répteis de
alma vivente." De imediato, as águas tornaram-se ondulantes
pela presença de incontáveis espécies de répteis que, felizes
e gratos, festejavam a existência num contínuo nadar e
saltitar. Desde os seres microscópicos até as grandes
baleias, todos surgiram em completa harmonia, refletindo em
sua natureza o amor do Criador. Pousando os olhos sobre a
atmosfera anil que repousava sobre as verdejantes florestas,
o Eterno continuou: "Voem as aves sobre a face da expansão
dos céus". Mediante Sua ordem, os Céus encheram-se de
pássaros coloridos que, voando em todas as direções, tinham
no coração um cântico de gratidão pela vida. Esse cântico
encheu o ar, misturando-se com o perfume das matas
floridas. Contemplando com prazer Suas criaturas terrenas, o
Eterno abençoou-as dizendo: "Frutificai e multiplicai-vos e
enchei as águas nos mares, e as aves se multipliquem na
Terra." Rejubilantes, as hostes fiéis presenciaram o alvorecer
do sexto dia. O que criaria Deus nesse novo dia? Esta
indagação pairava na mente de todos os seres racionais.
Estavam certos de que algo muito especial estava para
acontecer. Erguendo os potentes braços, o Eterno ordenou:
"Produza a Terra alma vivente conforme a sua espécie: gado,
répteis e bestas-feras da terra, conforme a sua espécie." Sua
voz poderosa foi prontamente ouvida e, nas florestas e
campos, pôde-se ver o resultado de Seu poder criador.
Animais de todas as espécies despertaram numa existência
feliz, em meio a um paraíso de perfeita paz. A Terra tomarase
extremamente bela, qual princesa adornada para receber
o seu rei e senhor. Quem seria esse ser especial? Movendo-
Se com majestade, o Eterno baixou às glórias do novo
mundo, dirigindo-Se ao jardim do Éden, lugar do divino trono.
Os anjos da luz acompanharam-nO reverentes, detendo-se
qual nuvem sobre os céus do paraíso. Todo Universo
observava com profundo interesse o desdobramento dos atos
do Criador, em resposta às acusações de seus inimigos. O
momento era decisivo. Tudo indicava que o Eterno
demonstraria não ser tirano nem egoísta, coroando alguém
sobre o monte Sião. Satã e seus seguidores não duvidavam
de que o reino lhes seria entregue e reinariam vitoriosos no
seio daquele antigo abismo, onde as trevas e a luz agora se
entrelaçavam. Os súditos da luz estremeceram ante essa
perspectiva. Junto à fonte do rio da vida, o Eterno curvou-Se
solenemente e, com os elementos naturais da Terra,
começou a moldar, com muito carinho, uma criatura especial.
Depois de alguns instantes, estava estendido diante do
Criador o corpo, ainda sem vida, do primeiro homem.

O Eterno contemplou-o e, após acariciar-lhe a face fria e
descorada, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e o
homem começou a viver. Como que despertando de um
sono, o homem abriu os olhos e contemplou a face meiga de
Seu Criador que, sorrindo, beijou-lhe a face agora corada e
cheia de vida. Emocionou-se ao ouvir o Eterno dizer-lhe com
voz suave e cheia de afeição: "Meu filho, meu querido filho!"
Por ter nascido do solo, o primeiro homem recebeu o nome
de Adão. Tomando-o pela mão, o Eterno levantou-o. Sem
perceber o cenário de fulgor que o circundava, Adão, num
gesto de gratidão pela existência, envolveu o Criador num
terno abraço, prostrando-se em reverente adoração. As
hostes fiéis que admiradas testemunhavam a grandiosa
realização divina, emocionadas ante o gesto humano,
prostraram-se também em reverente adoração. Uniram então
as vozes num cântico de júbilo em saudação àquela criatura
especial, que despertava para a vida num momento tão
decisivo para o Universo. Com o coração cheio de felicidade,
Adão uniu-se aos anjos em seu cântico de louvor. Sua voz,
ao ecoar pelos arredores floridos, misturou-se ao canto das
aves e ao mugir de animais que se aproximavam em festa.
Num passeio de surpresas inesquecíveis, Adão foi
conscientizado das belezas de seu lar. Com admiração,
contemplou o monte Sião, donde jorrava o rio da vida, numa
cascata de luz. O glorioso monte jazia coroado por um lindo
arco-íris. Em seus passos, seguiu o curso do cristalino rio,
que deslizava sereno em meio às maravilhas do Éden.
Admirava-se das altaneiras árvores que, embaladas pela
brisa, deixavam pender dos ramos abundantes flores e frutos.
Inclinava-se aqui e acolá, atraído pelo fulgor de pedras
preciosas que por todas as partes enfeitavam o gramado.
Com intensa alegria, Adão tomava conhecimento das
infindáveis espécies de animais que povoavam o jardim.

Todos eram mansos e submissos e viviam em perfeita
harmonia e felicidade. Detendo-se em seus passos, Adão
admirou-se da alvura e meiguice de um animalzinho que
brincava no gramado. Aproximando-se, tomou-o em seus
braços, dedicando-lhe um afeto especial. Como era agradável
acariciar sua alva lã! Seus olhinhos meigos refletiam um
brilho de amor e humildade. Havia algo de especial naquele
animalzinho. Afetuosamente, Adão chamou-o de "cordeiro".
Com o animalzinho em seus braços, Adão olhou agradecido
para o Eterno e O adorou. Contemplando Suas alvas vestes,
Seus olhos expressivos de um amor sem par, Adão descobriu
que tinha nos braços um símbolo de seu Autor. Feliz,
exclamou: "Oh, Senhor, este cordeirinho revestido de tão
branca lã, com olhar expressivo de tanto amor, se parece
Contigo. Eu quero tê-lo sempre junto a mim." Observando os
animais, Adão percebeu que eles desfrutavam de um
companheirismo especial. Via por toda parte casais felizes
que viviam um para o outro. Seus pensamentos voltaram-se
para o Seu Companheiro. Olhou ao derredor e ficou surpreso
por não vê-Lo. O Eterno havia Se ocultado propositalmente,
tornando-Se invisível. Adão sentia-se solitário em meio
àquele paraíso. Com quem partilharia sua felicidade e seu
amor? Havia ali os animais, mas eles eram irracionais, não
podendo compartilhar de seus ideais. Nascia em seu
coração, ao caminhar solitário naquele entardecer, um desejo
ardente de encontrar alguém que pudesse estar sempre a
seu lado. Enquanto Adão olhava para as distantes colinas na
esperança de ver alguém, o Eterno apresentou-Se ao seu
lado e disse-lhe: "Não é bom que o homem esteja só; far-lheei
uma companheira." Adão ficou feliz ao ouvir do Criador
essa promessa, justamente no momento em que tanto
ansiava ter alguém para estar sempre visível a seu lado.
Tomado por um profundo sono, Adão reclinou-se no peito de
seu amoroso Criador que, com carícias, o fez adormecer.

Em seu subconsciente surgiram os primeiros sonhos coloridos:
Contempla o olhar meigo do Eterno; ouve o som harmonioso
da música angelical; descobre as maravilhas ao derredor: o
monte Sião com seu arco-íris; o rio da vida; os prados em flor;
os animais que o saúdam em festa. Repetem-se em seus
sonhos as cenas que o envolveram em seu anseio; olha ao
derredor na esperança de encontrar seu companheiro, mas
não o vê. Sente-se solitário em seu sonho, e isso o faz
procurar alguém com quem possa compartilhar sua
existência. Seu olhar estende-se por campinas verdejantes,
divisando ao longe colinas floridas. Enquanto caminha
esperançoso, sente a brisa mansa a afagar-lhe os cabelos
macios. Conversa com a brisa: "Brisa, você parece ser quem
tanto procuro; você me afaga os cabelos; beija minha face;
você tem o perfume das verdes matas. Se eu pudesse ver
sua face, beijá-la-ia; se eu pudesse tocar os seus cabelos,
faria longas tranças e as enfeitaria com as flores do nosso
jardim!" Após caminhar em sonho pelos prados do paraíso,
Adão deteve-se enquanto contemplava a paisagem ao redor.
Admirou-se por não ver o efeito da brisa nos ramos floridos.

Mas como, se a sentia calidamente no rosto? Começou então
a despertar de seu sonho. Ainda com os olhos fechados
lembrou-se do momento em que, sonolento, recostara-se no
peito do Eterno. Seria a brisa o afago de Suas mãos? Com
esta indagação abriu os olhos e emocionou-se ao contemplar
uma linda mulher que, com as mãos perfumadas, acariciava-lhe
a face com amor. Era a brisa de seu sonho; a promessa
de um Criador que só queria fazê-lo feliz. Agora Adão era
completo, pois tinha Eva, que era carne de sua carne e ossos
de seus ossos. Tomando-a pela mão, Adão convidou-a para
um passeio de surpresas inesquecíveis. Mostraria à sua
companheira as belezas de seu lar. Sensibilizada Eva
detinha-se a cada passo, atraída pelas flores que exalavam
suaves perfumes; pelos pássaros que gorjeavam alegres
cantos; pelos animais que os seguiam submissos; pela
vegetação de ricos matizes; pelas águas cristalinas do rio da
vida que jorravam em cascata do monte Sião. Tudo no
paraíso era perfeito e belo, mas nada se igualava ao ser
humano, criado à imagem de Deus. Voltaram-se um para o
outro em admiração e carícias. Embalados por esse amor,
permaneceram até o entardecer. Com deleite, o jovem casal
passou a contemplar o sol poente que, através de rosados
raios, coloria o céu em lindo arrebol. Era o sexto dia que
chegava ao seu final, dando lugar às horas de um dia
especial: o sábado. Esse dia, em seu significado, seria solene
para todos os súditos do Eterno, pois seu alvorecer traria a
vitória para o reino da luz. O sol, que durante o sexto dia
alegrara a natureza com seu brilho e calor, ocultou-se,
deixando-a em frias sombras. Os alegres pássaros,
silenciando seus trinos, buscavam seus ninhos enquanto os
outros animais se recolhiam. Somente o casal permaneceu
imóvel, procurando divisar, no último lampejo que se apagava
no horizonte, a esperança de um novo alvorecer. Indagavam
o sentido das trevas quando, por entre as ramagens, viram
um lindo luar, cujos raios prateados banhavam a natureza em
suave luminosidade. Todo o céu estava iluminado pelo fulgor
das estrelas. Admirados, descobriram que a noite somente
era trevas quando se olhava para baixo. Adão e Eva em sua
inocência não sabiam que aquela noite simbolizava o futuro
sombrio da humanidade. Quando o compreendessem,
ficariam confortados ao contemplar o fulgor dos céus: o luar
falaria de esperança e as estrelas cintilantes testemunhariam
o interesse das hostes da luz em aclarar-lhes as trevas
morais, dando alento aos pecadores. Mas seriam iluminados
apenas aqueles que, desviando os olhos da Terra,
contemplassem os altos céus. Após contemplar por algum
tempo o céu em sua luminosidade, o casal, lembrando-se das
belezas do paraíso, volveu os olhos, buscando divisá-las.

Estavam, porém, ocultas em meio às sombras. Quanto
almejavam o alvorecer, pois somente ele traria consigo o
paraíso! Ante o anseio do coração humano, o Eterno surgiu
em meio às trevas, devolvendo ao casal a alegria de se
encontrar novamente num jardim colorido. Banhados em
suave luz, caminhavam agora por prados verdejantes e
floridos. o brilho do Criador despertava a natureza por onde
passavam, colorindo e alegrando tudo em derredor. O casal,
admirado, aprendeu que ao lado do Eterno poderiam ter um
paraíso em plena noite. Sentindo-se sonolentos, Adão e Eva
recostaram-se no colo do amoroso Pai, que os faz adormecer
docemente, esperançosos de um despertar feliz. Deitando-os
sobre a relva macia, o Eterno elevou-Se indo para junto das
hostes contemplativas. Voltaria a manifestar-Se ao alvorecer,
fazendo o casal despertar para o mais solene acontecimento,
que reduziria a pó as vis acusações dos inimigos. A noite
escura e fria, através de suas longas horas, parecia zombar
da luz. Ofuscaria para sempre as belezas da criação? Oh,
jamais! O sol não recuaria ante a imponência das trevas;
surgiria em breve como um libertador, arrebatando com seus
cálidos raios a natureza das frias garras, dando-lhe vida e
cor. Num último desafio, as trevas tornaram-se densas nas
horas que antecederam o alvorecer. A noite arregimentava
suas forças para lutar pelo domínio usurpado. Finalmente,
surgiu no leste um lampejo que parecia falar de esperança
em um novo dia. O céu aos poucos tornou-se colorido de um
vermelho vivo. As trevas impotentes recuaram ante a força
crescente da luz e foram consumidas em sua fuga.

A natureza começou a despertar da longa noite, refletindo em
seu seio os saudosos raios. Flores abriram-se, exalando
perfumes de alegria; animais e aves, silenciados pela noite,
uniram as vozes num cântico triunfal em saudação ao
alvorecer daquele dia grandioso. A negra noite chegara ao
fim, dando lugar à luz do dia sonhado - dia que para Deus
tinha um sentido especial, pois prefigurava a final vitória de
Seu reino sobre o domínio da rebeldia. O Eterno agora
despertaria Seus filhos humanos que, banhados pela luz de
Sua presença, haviam adormecido na esperança de um
alvorecer feliz. Numa marcha festiva, todas as hostes santas,
com cânticos de vitória, acompanharam-nO rumo ao paraíso
banhado em luz. Quando já estavam próximos, o Criador
deteve-Se contemplando o casal adormecido, e exclamou
suavemente: "Acordem meus filhos." Sua voz penetrou nos
ouvidos de Adão e Eva, despertando-os para a mais feliz
comunhão. Quão depressa raiara a acalentada manhã,
trazendo em sua luz o doce paraíso, perdido naquela noite!
Com alegria o casal saudou o divino Criador, unindo-se aos
anjos em antífonas triunfais. O Universo vivia um momento
deveras solene. Naquela manhã festiva, o Eterno haveria de
revelar a grandeza de Seu caráter, que é justiça e amor. As
acusações de que Seu governo era de egoísmo e tirania
seriam refutadas. Aos olhos de todas as criaturas racionais
do vasto Universo, Deus conduziu o jovem casal ao monte
Sião, lugar do divino trono. Ali, ante o estremecimento das
hostes emudecidas, o Criador, num gesto surpreendente,
cobriu o homem com o manto real, colocando sobre sua
cabeça a coroa que fora cobiçada por Lúcifer. Movidos por
profunda gratidão pela suprema honra conferida, Adão e Eva
prostraram-se reverentes, depondo aos pés do Criador sua
coroa preciosa, em sinal de submissão. Seguiu-se a esse
gesto humano um brado de vitória que sacudiu toda a
Criação. Os filhos da luz, que por tanto tempo haviam sofrido
afrontas e humilhações ante as constantes acusações das
hostes rebeldes, exaltaram em retumbante louvor o Deus
bendito, que em Sua obra de justiça desmentira os inimigos,
revelando Seu caráter de humildade, desprendimento e amor.
Tendo constituído o homem como o senhor de toda a criação,
o Eterno, com voz solene, passou a conscientizá-lo da
grandiosidade de sua missão. Como um mordomo fiel,
deveria cuidar do paraíso, mantendo límpida a fonte do rio da
vida. As leis da justiça e do amor, fundamentos do reino da
luz, deveriam ser honradas. Como um cetro racional, caberia
ao homem, em gesto de reconhecimento e gratidão, aceitar
livremente o governo d'Aquele que o criou. As hostes, que
maravilhadas testemunhavam a revelação do
desprendimento divino, compreenderam que o Senhor da Luz
não governaria mais o Universo, a não ser com o
consentimento humano. O homem, pela vontade do Eterno,
fora feito o árbitro da criação; em seu glorioso ser, feito à
imagem do Criador, resplandecia o selo do eterno domínio.

Após revelar ao casal a infinita honra e responsabilidade de
sua missão, o Criador conscientizou-o do conflito espiritual
que se travava pela conquista do domínio universal: Lúcifer,
que por incontáveis eras servira ao divino Rei em Sião, havia
sido corrompido pelo orgulho e pelo egoísmo, sendo seguido
por um terço das hostes racionais; buscavam agora destronar
o Eterno, desonrando-O com vis acusações. Tendo revelado
ao ser humano a dolorosa situação em que o Universo se
encontrava, o Eterno, num gesto solene, mostrou-lhe duas
altaneiras árvores que, carregadas de grandes frutos, se
erguiam em ambas as margens do rio que nascia do trono. A
que se elevava à direita revelou o Senhor ser a árvore da vida
monumento do reino da luz. A que se erguia à outra margem
revelou ser a árvore da ciência do bem e do mal - símbolo da
rebeldia. Comendo do fruto da árvore da vida, o homem
manifestaria sua submissão ao Criador, que é Fonte de vida e
luz. Comer da outra árvore seria entregar ao inimigo o
domínio de Sião. O inevitável resultado desse passo seria a
morte eterna, não somente para o ser humano, mas para
toda a criação, que se reduziria ao caos sob a fúria da
rebeldia. Após contemplar demoradamente as duas altaneiras
árvores, que externavam em seus frutos tão infinita
responsabilidade, Adão prostrou-se ante o Criador, dizendo:
"Digno és Senhor de reinar sobre o Universo, pois pela Tua
sabedoria, amor e poder todas as coisas foram criadas e
subsistem." O sábado, emblema do triunfo divino, encheu-se
de louvor. Todos os filhos da luz uniram-se ao ser humano no
mais harmonioso cântico de exaltação Àquele cuja grandeza
é sem par. Foi com espanto que Satã e seus seguidores
testemunharam a grandiosa realização do Eterno.

Presenciaram com amargura a alegria dos fiéis ante a
coroação do homem- acontecimento que lançara por terra as
fortes acusações que eles haviam levantado contra o governo
divino. Cheios de frustração e ira, consideravam agora sua
triste condição. Quão terrível e humilhante era-lhes o
pensamento de verem seus planos de rebeldia desfazerem-se
diante do Criador, semelhantes às sombras daquela noite.
Se pudessem, pensavam, encheriam o sábado de trevas,
banindo da mente dos súditos do Eterno qualquer esperança
de vitória. Finalmente, em suas considerações, Satã e seus
liderados compreenderam que lhes restava uma
oportunidade: no meio do jardim do Éden, nas alturas de
Sião, elevava-se, junto ao rio da vida, a árvore da ciência do
bem e do mal. Bastaria um gesto humano, nada mais, e
teriam sob seu poder, para sempre, o domínio cobiçado. Mas
como seduzi-lo? Animado ante a perspectiva de uma
conquista, Satã procurou, com engenhosidade, arquitetar um
plano de abordagem. Sabia que, se falhasse em sua
tentativa, todas as esperanças de triunfo ter-se-iam diluído,
desfazendo-se todos os seus sonhos de aventura. Concluiu
que o engano haveria de ser sua poderosa arma. Não fora
através dele que conseguira dominar um terço das hostes
celestes?! Aguardaria, portanto, um momento propício para
armar sua cilada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário